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Segunda-feira, 1 de Novembro de 2010

Memórias de um Músico de Baile - Uma história no Sobreiro (concelho de Mafra)

DR

 

 

 

Tarde e noite de verão, arraial ao ar livre.

 

A meio da tarde, cinco encalorados músicos atacavam as músicas do seu reportório, fazendo rodopiar os pares no arraial.

 

E encalorados porque o palco, embora espaçoso (coisa rara naquele tempo, pois as Comissões de Festas achavam que autênticos "cubículos" onde mal cabiam acordeonistas - com todo o respeito que estes últimos me merecem... - tinham de albergar cinco músicos e o seu material... manias, pronto!!!...), não tinha qualquer cobertura...

 

A uma certa altura, os cinco músicos já exibiam garbosamente lenços com pontas atadas em cima de outras tantas cabeças, improvisando uns tão cómicos quanto ridículos chapéus...

 

Era o que se podia arranjar, pois o sol caía a pino...

 

Só que...

 

...No caso do "tal-músico-de-1m80-de-altura-e-mais-de-100-kg-de-peso" (adivinhem quem  ...), o remédio foi tardio... Tinha começado a sentir uma dorzinha de cabeça localizada no parietal esquerdo... e isso era sinal de sarilho...

   

Quando terminou a "matinée" (cerca das 20:00), os músicos sentaram-se à mesa para jantar.

 

O  "tal-músico-de-1m80-de-altura-e-mais-de-100-kg-de-peso" (adivinhem quem  ...) ainda pediu um bife grelhado sem qualquer acompanhamento... e uma garrafa de água natural...

 

Qual quê?!?!?... Assim que o bife entrou no estômago do pobre "músico-de-1m80-de-altura-e-mais-de-100-kg-de-peso" (adivinhem quem  ...), depressa tomou um rápido caminho de retorno pela mesma via...rss

 

O pobre desgraçado estava com um ataque de "figadeira" provocado por uma insolação...

 

E quando assim era, tudo o que "entrava" ... "saía", nem que fosse uma saudável "Água das Pedras" !!!!

 

Só havia uma solução para este caso, que já tinha resultado anteriormente: uma ligeira "passagem pelas brasas" de 20 a 30 minutos, para acalmar o organismo.

 

E assim fez.

 

Dirigiu-se à carrinha de transporte do material, estendeu-se no banco dianteiro... e adormeceu que nem um santinho...

 

Acordou 40 minutos mais tarde, com o troar da aparelhagem a fazer o "check sound"..

 

Retornou ao palco... e experimentou a beber um pouco de água.

 

"Ficou"...

 

Daí a poucos minutos... uma bolacha de água e sal.

 

"Ficou"...

 

Uma hora mais tarde, uma boa dose de água natural.

 

"Ficou"...

 

Pois bem, meus amigos:

 

Ao fim da noite, já o "tal-músico-de-1m80-de-altura-e-mais-de-100-kg-de-peso" (adivinhem quem  ...) estava a comer...

 

... não uma bolacha de água e sal...

 

... não um prato de peixinho cozido...

 

... não um prato de bifinho grelhado...

 

mas sim ...

 

TARÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!...

...

C A R N E    D E    P O R C O  "À S   M E R C Ê S" ! ! !

 

 

 

 

Visitante

Música: "Cuando Calienta El Sol"
Sinto-me:
Publicado por Visitante às 15:26
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Domingo, 17 de Outubro de 2010

Memórias de Um Músico de Baile - Uma História em Alcoitão (Concelho de Cascais)

 

Anabela Costa

 

 

 

Noite de inverno, actuação na colectividade local.


A banda chegou, "assentou arraiais", ligou materiais e outras coisas mais.

(Esta rimou bem demais!!!)


Montada a instalação sonora, ligados os instrumentos, feito o "check-sound", os músicos foram jantar a um restaurante ali próximo.


Sentaram-se à mesa a comer, e um deles, um latagão de 1m80 de altura e mais de 100 kg de peso (adivinhem quem ...) devorou uma opípara refeição - como diria o poeta "comeu daquela vez como se fosse a última"...

Feliz e de barriguinha ("barriguinha"...) cheia, o nosso músico lá acompanhou os seus quatro colegas de regresso à colectividade.


Feita uma última revisão para ver se estava tudo em ordem, eis que batem as vinte e duas badaladas e a banda atacou a primeira música.

E lá fomos tocando e cantando, divertindo a assistência e divertindo-nos nós próprios.


(Para que possam compreender os motivos do que vou contar mais à frente, devo esclarecer que esse músico calmeirão e de apreciável envergadura física passava o tempo a mexer-se enquanto tocava. Além disso, a sua amplitude vocal permitia-lhe acompanhar o seu vocalista com vozes em tons altos, tudo isso à custa do esforço das cordas vocais, do diafragma e dos músculos do estômago)


Eis, pois, os ingredientes da receita:


- Um opíparo jantar;

- Um movimento constante do músico durante a actuação;

- A frequente contracção dos músculos do estômago;


... e estava pronta a caldeirada...


Só faltava o momento da "cozedura"...


... que aconteceu quando, passadas algumas horas após o opíparo jantar , estava a Banda a tocar a "Valsa da Meia Noite" enquanto os pares ondulavam ao ritmo de compasso ternário, o "tal" músico latagão de 1m80 de altura e mais de 100 kg de peso (adivinhem quem ...) fez repentinamente um sinal aflitivo para os seus colegas terminarem abruptamente a música, saiu quase em vôo do palco, entre os olhares surpreendidos de colegas e bailantes, correu para a casa de banho e mal teve tempo de "deitar tudo cá para fora"...


Lá se fôra o opíparo jantar ...


Escusado será dizer que o resto da noite foi passado a "Água das Pedras"...


Essa noite serviu-lhe de lição para nunca mais repetir a "gracinha"...

 


Visitante

Música: "Throwing it All Away"
Sinto-me:
Quinta-feira, 7 de Outubro de 2010

Memórias de Um Músico de Baile - Uma História em Vila Franca de Xira

 

HM

 

 

 

Noite de primavera, arraial ao ar livre.


Mais propriamente, véspera de 25 de Abril de um ano qualquer...


A banda iria actuar nas comemorações do "25 de Abril", efectuando uma primeira parte de baile, depois o discurso da praxe, após o que se tocaria a "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, seguindo-se uma sessão de fados com artistas locais, e finalmente a segunda parte de baile.


A primeira parte "correu sobre notas", até cerca das 23:30.


Foi a vez do discurso, liberdade, democracia, ditadura, conquistas dos trabalhadores, etc. etc. etc.


Previamente, um "técnico-daqueles-que-sabem-tudo", com um ar importante, tinha vindo dizer ao pessoal do conjunto que, à meia noite, ele transmitiria através da aparelhagem própria da organização do evento (colocada paralelamente à nossa) o sinal horário da Antena 1 (o "velho" sinal horário de quatro toques longos e um curto que era uma autêntica instituição da Rádio nacional e que, infelizmente, foi substituído por uns quaisquer banais "blips"...), e imediatamente faria soar a gravação da "Grândola Vila Morena" através de um leitor de cassetes.


Ok, dissemos nós... e não nos preocupámos mais com o assunto.


Após o discurso - que estava bem programado, diga-se de passagem, pois terminou poucos momentos antes da meia noite...  -, ficámos na expectativa do sinal horário.


Soou o sinal horário.


Momento solene...

 

...


... e um silêncio sepulcral... nada de "Grândola Vila Morena"...


Após uns angustiosos quatro a cinco minutos, lá soou a voz de Zeca Afonso... enquanto os músicos da banda, face ao ar furibundo do agora silencioso orador, trocavam sorrisinhos irónicos entre si...


Ouviu-se depois a explicação do "técnico-daqueles-que-sabem-tudo" (agora com um ar não tão importante assim...), dizendo que tinha gravado a cassete com a música de Zeca Afonso, sim... mas esquecera-se de pôr a fita no local exacto...


Bom, passada que foi esta peripécia, deu-se início à sessão de fados.


Os dois guitarristas contratados para o efeito ocuparam os seus lugares, ligaram-se microfones e cabos...


... e desfilaram os fadistas amadores de Vila Franca de Xira, cada um com o seu fado, a sua forma castiça de cantar e o seu atropelo aos compassos das músicas, isto tudo complementado com as expressões de paciência angustiada dos guitarristas enquanto as suas próprias mãos tentavam desesperadamente acompanhar as "fugas em fado menor" de tão garbosos intérpretes...

 

 

Visitante

Sinto-me:
Música: "Fado do Campino"
Publicado por Visitante às 21:09
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Terça-feira, 5 de Outubro de 2010

Memórias de um Músico de Baile - Uma História em A-das-Lebres (Concelho de Loures)

DR

 

 

 

 

Tarde de Verão, arraial ao ar livre.

 

A Banda estava em plena actuação, cumprindo um contrato entre as 17:00 e as 24:00, sendo que, a partir das 22:00, alternaria o espectáculo com outra banda que, depois e por sua vez, prosseguiria a sua actuação até às 03:00 da madrugada.

 

Cerca das 19:00,  demos início a mais uma série de músicas, a qual foi destinada a vários instrumentais (valsa, tango, cha-cha-cha, etc).

 

Chegou o momento de tocarmos o "pasodoble".
 

Para quem for leigo/a nestas coisas, esclareço que o "pasodoble" é o tipo de música com que as bandas filarmónicas animam os espectáculos tauromáquicos.

  

Por outro lado, durante as toiradas, é-nos dado assistir aos toques de trompete com que se assinala a entrada dos cavaleiros, dos forcados, dos matadores, dos cabrestos... e, é claro, do TOIRO.

 

Ora bem, retomemos o fio à meada e voltemos ao nosso arraial...

 

Estava eu a dizer que chegou o momento de tocarmos o "pasodoble".

 

O "pasodoble" que nós tocávamos era o "Y Viva España", que começa precisamente com o "tal" toque de trompete "a chamar o toiro"...

 

Pois bem: ao iniciarmos esse "toque-de-trompete-a-chamar-o-toiro"... eis que, em grande estilo, entra pelo arraial adentro a carrinha dos nossos colegas do outro conjunto.

 

Claro está que, pelo nosso lado, a risota foi geral... e as caras de poucos amigos dos nossos colegas, dentro da carrinha deles, valeram ouro!!!!

 

 
Visitante

 

 

Música: "La Luna Y El Toro"
Sinto-me:
Domingo, 26 de Setembro de 2010

Memórias de um Músico de Baile - Uma História na Serra (Concelho de Tomar)

 

 

 

DR

 

 

 

Tarde de Verão, arraial ao ar livre.

 

A banda chegou ao recinto. O material foi retirado da carrinha e transportado para o palco, através de um escadote de madeira que nem grampos tinha para ser preso ao palco.

 

A montagem correu impecavelmente, as ligações também.

 

Iria ser uma noite sem grandes histórias.

 

Ah! E teríamos a presença de uma jovem esperança da música portuguesa, que hoje é já uma certeza, embora os trabalhos dela sejam pouco passados nas nossas rádios.

 

(Num à-parte e a propósito,  permito-me criticar vivamente as opções das nossas Rádios quando escolhem uma qualquer Kylie Minogue a cantar "na na na na na na" em detrimento de cantores portugueses absolutamente capazes "do mesmo"...

 

Pois..., mas assim e a esses a nossa imprensa chama-lhes "Pimbas"...).

 

Iria ser uma noite sem grandes histórias, escrevia eu...

  

Enquanto nos afadigávamos a montar o material, decorria um leilão de fogaças.

 

Esse leilão estava a ser difundido através de altifalantes em forma de "cornetas" - que, normalmente, são colocados em postes altos, de modo a que a aldeia inteira "sofra a bom sofrer" com a sua duvidosa qualidade sonora...

 

Assim, os músicos iam acompanhando a par e passo os valores a que eram arrematadas as fogaças.

  

Uma delas chegou a atingir ... segurem-se bem!... 650.000$00 (actualmente 3.250,00 €).

 

Ora bem, na terra em que uma fogaça foi arrematada por 650 contos, o escadote de madeira que servia para os músicos acederem ao palco estava num estado lastimoso.

 

... a tal ponto que um dos músicos, aquele de um 1,80 de altura e mais de 100 kg de peso (adivinhem quem... ), num dos seus "vaivens-escada-acima-escada-abaixo", quando estava a descer do palco pelo escadote, sentiu como que o chão fugir-lhe debaixo dos pés.

 

Só teve tempo de dar um salto... mas, devido ao suor, os óculos de 38.000$00 que usava nessa época escaparam-se-lhe da cara enquanto ele fazia um pequeno "vôo picado" na direcção do saibro...

 

... e o pior é que os óculos aterraram primeiro do que o "corpo voador"... e serviram de "aeroporto" ao corpulento músico cadente, ficando partidos no sítio chamado "ponte"...

 

Depois de uma sonora e colorida verborreia, o músico lá conseguiu colar a "ponte" dos óculos, e assim assegurar uma boa visão para o espectáculo dessa noite, na Serra (Concelho de Tomar), onde sobejava dinheiro para arrematar uma fogaça mas faltava para um escadote de jeito...

 

 

 

Visitante

 

 

Sinto-me:
Música: "Upstairs Downstairs"
Publicado por Visitante às 20:35
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